Café Agroflorestal: uma solução completa
- 28 de abr.
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Por Sarah Sampaio, Diretora Executiva da Amazônia Agroflorestal

O mercado mundial de café atravessa um dilema complexo: de um lado, a demanda nunca foi tão alta – o consumo doméstico mundial chegou a 170,2 milhões de sacas de 60kg em 2023/2024, de acordo com dados exibidos pela Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC) – e, de outro, as mudanças climáticas (altas temperaturas e secas prolongadas) ameaçam a própria base produtiva. Estimativas de um estudo da Unesp indicam que até 2080, áreas de cultivo de arábica podem diminuir pela metade.

É nesse novo contexto desafiador que vemos no café robusta agroflorestal da Amazônia um caminho para a solução. Quando implantado em áreas degradadas, o sistema agroflorestal não apenas recupera a floresta, o solo e amplia a biodiversidade, mas também contribui para o sequestro de carbono e o aumento do conforto climático, potencializando a resiliência climática das plantas.
O robusta mostra-se naturalmente mais resistente ao aumento de temperatura e à incidência de pragas, reduzindo significativamente as perdas em comparação ao arabica, predominante no mercado e que precisa de clima mais ameno e altitudes mais elevadas. Segundo relatório do Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas (C3S), 2024 foi o ano mais quente registrado no mundo, sendo que 44% do planeta foi afetado pelas elevações extremas de temperatura.

Quando olhamos para nossa prática em Apuí, técnicas de fermentação e torra vêm elevando a qualidade do produto final, desmistificando a ideia de que o robusta seria um café inferior ou pior, um paradigma antigo no mundo do café. Seguimos o exemplo e tradição de Rondônia, com apoio da consultora Poliana Perrut, que produz robustas especiais já há um tempo. O resultado é um produto com sabor intenso, acidez mais baixa e notas frutadas que carrega em cada xícara um impacto socioambiental real: o fortalecimento da agricultura familiar e a garantia de preços justos com compra garantida e pagamento adiantado, que aumentam a renda dos produtores parceiros da nossa iniciativa.

Paralelamente, pesquisas revelam que cerca de 60% dos consumidores estão dispostos a pagar um pouco mais por produtos sustentáveis, o que prova que o café agroflorestal atende ao desejo contemporâneo de escolhas éticas e responsáveis. Lembrando que estamos falando da bebida mais consumida do mundo, perdendo apenas para a água. Entretanto, desafios logísticos e custos elevados, típicos de regiões mais remotas, ainda pressionam o preço final.
Para superá-los sem abrir mão dos benefícios socioambientais, é crucial contar com parcerias público-privadas e incentivos governamentais, capazes de viabilizar investimentos em infraestrutura e capacitação. Ainda enfrentamos grandes desafios com o preço de logística e fornecedores no sul do Amazonas. O café agroflorestal da Amazônia aponta para o futuro da economia: uma produção que alia viabilidade econômica, alta qualidade e regeneração ambiental, oferecendo um modelo que, se ampliado, pode equilibrar mercados, aumentar a resiliência de agricultores às mudanças climáticas e valorizar nossa floresta.
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